Atravessei a ‘fronteira’! Agora eu sou Jornalista.

De ‘mera mortal’ a estagiária de jornalismo no The Intercept Brasil (ou quase isso)

Ontem eu fui dormir reflexiva. Teoricamente, foi meu último dia ‘do outro lado’. Como sou obrigada a fazer viagens corridas pra Pavuna, vez ou outra estou no ônibus exatamente no momento em que os estudantes estão a caminho do colégio. Eu nunca estudei na rede pública municipal ou estadual, mas carrego o mesmo sentimento por viver em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. É uma vida onde quase o universo inteiro cabe no próprio município (e o que sobra, na internet), onde há mais dúvidas do que conhecimentos ou preocupações. Uma rotina onde as coisas que eu ouvia do Foro de Teresina — podcast sobre política da Revista Piauí — através do meu fone de ouvido pareceriam estar em outro idioma. E nem um idioma latino seria!

Sinceramente, quando o assunto é política e vários outros temas ‘adultos’ desse mundão, eu ainda me sinto como eles. Naquela zona — às vezes até segura — da ignorância TOTAL, portanto nem medo dá pra sentir.

Agora eu cruzei a fronteira. Ao entrar pela porta da redação do The Intercept Brasil, não como visitante e nem como candidata a alguma vaga, teoricamente o mundo assume que por A+B eu não só entendo como tenho PAIXÃO pelo universo político e investigativo. Mas, não! Eu ainda estou engatinhando e, sinceramente, não quero me desgarrar dos que também estão dando seus primeiros passos. Sou recém chegada neste universo.

Acompanhar político após o voto? Compreender alianças políticas? Cargos de confiança? Trabalho em gabinete? Votações e cargos internos? Existem pessoas muito mais poderosas que o presidente da república?

COMO ASSIM????

Parece que eu sou uma ‘analfabeta’ total.

Desde o Programa ProLíder, quando o assunto político surge eu me sinto tão desnorteada quanto quando minhas primas conversavam sobre pessoas da igreja, lá na minha infância. Fofocas e notícias carregadas de nomes, sobrenomes e conexões que eu nunca compreendia. Até desistia de entender, pra falar a verdade. As pessoas falam tão rápido sobre juízes, ministros, deputados e derivados que parecem até estar falando dos próprios PARENTES. Isso tá longe de ser natural!

A única vez em que eu ‘sintonizei’ na TV Senado foi durante a votação do impeachment da Dilma Rousseff. O meu maior tempo de consumo de GloboNews foi na sala VIP da 1001 em São Paulo, sempre esperando o retorno pra casa após o ProLíder. Estou abismada com a possibilidade de consumir notícia através de podcast! Sim, é igual ao rádio, mas com menos pressa e mais profundidade. Finalmente estou entendendo o que é dito.

Às vezes me sinto numa utopia, mas ao mesmo tempo com os pés no chão porque, embora a linguagem dos apresentadores seja mais fácil de entender do que em textos, em vários momentos eu me perco. Também tem horas em que eu me sinto no ‘tanto faz’. Algumas conclusões que meus colegas jornalistas dizem entusiasmados já eram fatos para pessoas como eu há muito tempo, seja por viver na pele ou pelos caminhos do ativismo.

Eu julgo. O Intercept, a Piauí e o Nexo são incríveis, mas falam com um público que muitas vezes não pisaria nas escolas que fazem parte do meu trajeto diário. Nem mesmo em caso de situações ‘nobres’ como as ocupações estudantis, por mais que aplaudam a causa. Entendo o sentido e a $ustentabilidade com um público especialista que quer conteúdo aprofundado, mas às vezes também acho muito descolado da ‘realidade’. Nisso brotam muitos conteúdos intragáveis, incompreensíveis.

Aí eu volto pro outro lado. E lá eu reencontro os meus.

Sou colecionadora de canecas e não vejo a hora de levar uma dessas pra casa

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