Sabe quando você tem a sensação de que é a única pessoa que não percebeu uma transformação muito importante? Fiquei assim, desnorteada, quando percebi que várias influenciadoras, minhas colegas de profissão, começaram a se declarar empresárias.
Do ponto de vista dos negócios, é um movimento essencial porque, sim, criar conteúdo é um trabalho complexo e ‘vence’ quem concilia diferentes fontes de renda. Tem gente gerenciando uma marca paralela, por exemplo.
Só que eu não vim falar sobre isso. Quero dizer que, tão importante quanto se posicionar enquanto influenciadora empresária, é APARENTAR ser empresária. A estética de “mulher de negócios” tem alguns padrões que consegui identificar, mesmo não tendo experiência ou estudos sobre moda:
- Blazers para todo lado, além de outras peças nesse padrão de costura, até então conhecidos como ‘mais formais’
- Maquiagem com cores mais suaves que geralmente reservam o destaque pra boca, porém isso não significa simplicidade. A beleza fica por conta de uma harmonia complexa de sobrancelhas bem desenhadas, cílios alongados e bochechas coradas. Podemos resumir tudo isso na palavra “elegância”.
- O cabelo costuma ser preso de forma sofisticada, e muita gente já percebeu a frequência da aparição de cabelos lisos. Há quem separe perucas lisas especialmente pra esses looks.
A ‘influenciadora empresária’ veio pra quebrar o protocolo. Agora os trajes formais são combinados com bermudas, grandes decotes, shortinhos e saltos incríveis. Elas são a personificação do poder feminino em forma de beleza, sensualidade e, principalmente, autonomia financeira! “Ela faz o dinheiro e o sucesso dela”, esse é o fio condutor invisível dessas postagens.
Conseguem reparar que, se a gente enxergar além do apelo de marketing dessa história, existe uma mensagem muito importante embutida? Em tempos de relacionamentos abusivos e feminicídio, estimular a autonomia feminina tem um peso absurdo, socialmente falando.
Só que muita gente não vai atingir esse nível de compreensão porque a pressão é cruel. Primeiro, nos comparamos com a realidade das outras pessoas (com razão, a única pessoa que não é milionária nas fotos desta postagem sou eu 🤣), nos sentimos péssimas por não ter dinheiro para acessar essas roupas e procedimentos estéticos, além de a maioria das pessoas também não terem acesso a profissionais de saúde mental. Não é só comprar um blazer que vai salvar a sua autoestima. Mesmo ‘garimpando’ em brechó.
A internet, assim como o cinema, também é feita daqueles padrões que chamamos de arquétipos. A “mulher de negócios” é só uma das ‘fantasias’ que temos usado por aí.
Para essas e outras reflexões, estou em todas as redes sociais como @nathbragap
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